quinta-feira, 9 de julho de 2009

Anarcos Péricles

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Sexta-feira, 10 de Abril de 2009

O MAIS NU DOS ARTISTAS - DIMITRI

O mais nu dos artistasDimitriSe não for engraçado, o clown não é um clown. Afora isto, ele tem todos os direitos, e também um dever: ser muito pessoal, com sua própria silhueta, seu estilo único, sua expressão particular. Quanto a mim, tento utilizar o máximo de meios: acrobacia, funambulismo, música, palavra... e mímica, é claro. Já fui criticado por isto, mas acredito que o clown tenha feito mímica bem antes dos mímicos. Essa mímica e quase todas as especialidades dos artistas do picadeiro, nós encontramos nos artistas da commedia dell'arte, mas a commedia, por mais engraçada que seja, não é clownesca. Um excêntrico como Georges Carl é hilariante, mas não é um clown. Há uns quinze anos, vi a peça de Marcel Achard "Voulez-vous jouer avec moá?"; os comediantes eram extraordinariamente cômicos, melhores que a maioria dos clowns, mas... não havia clowns, eram clowns representados por atores.Tomemos um contra-exemplo: Charlie Rivel. Por natureza, ele é "o" clown, a quintessência do clown, em seu ser, sua maneira de viver, de se exprimir. Talvez ele não fosse um perfeito ator, no sentido clássico da palavra, mas tinha o estilo clown, como o tinha Grock, o maior de todos. Atualmente, ele movimenta-se com dificuldade; sua filha Paulina tem que maquiá-lo. Mas o pouco que se move, sua maneira de desenvolver as gags lentamente, de comportar-se como uma criança, engraçada, má, poética, esperta, terna..., é um clown!Os Colombaioni abandonaram o circo. Eles tiveram o desembaraço de não se caracterizarem mais; depois de um minuto com eles em cena, você pensa: não são excêntricos, nem burlescos, nem comediantes que representam clowns, mas verdadeiros clowns.É apenas com exemplos como esses que se pode tentar explicar, definir. Mas é extremamente difícil pois os clowns têm um segredo que somente eles conhecem! Ele caiu sobre os seus narizes, quando estavam no berço! Eles só têm mérito se exploram-no bem, se cultivam-no. Tenho tanto respeito por esse ofício que não suporto aqueles que imaginam que basta, para merecer o nome de clown, colocar um nariz vermelho e sapatos monstruosos. Tenho horror de certas trupes, algumas bem conceituadas, em que os atores caracterizam-se até o topo da cabeça, em que utilizam-se um monte de acessórios mecânicos complicados que não cabem em uma camionete. Grock contentava-se com um violino e uma cadeira, mas Grock era um ponto culminante de nossa arte.Eu procuro, como ele, respirar, durante meu número, como na vida. Não se deve ter medo de perder seu tempo. O público está deformado, sobretudo por causa da televisão: ele quer ver tudo rápido, quer ter tudo rápido, a vida já digerida; e as crianças são como os adultos. Não devemos nos deixar enganar por essa onda. Quando se consegue impor seu próprio ritmo, quando se vence a partida, é maravilhoso porque as pessoas, então, dão-se conta de que se trata de outra coisa.Um dos meus "truques" é sorrir freqüentemente porque eu gostaria de transmitir isso: quero tanto, aliás, que, afinal, não é um truque! Quando, em um país em que ninguém me conhece, num botequim, chego a fazer rir não importa quem, uma pessoa, uma só - ou uma criança - fico todo feliz: tenho a impressão que realmente fiz alguma coisa, que consegui construir uma ponte com os outros. Atrás de meu sorriso, há essa vontade. Há muita vontade - nunca o bastante - e uma grande concentração. Sobre este ponto, estou longe, ai!, de igualar um iogue ou um monge zen, mas sou bastante auxiliado pela crença que inculcou-me minha mãe em um mundo onde as forças espirituais são, com toda a naturalidade, as mais influentes.Cada um tem sua pequena filosofia... A minha é não poder conceber meu trabalho senão como um clown honesto e verdadeiro: sua atitude e seu caráter transmitem-se através de sua arte, portanto é interessante tentar mostrar-se humano, gentil, com humor. Minha vida, meu ofício, tudo está no mesmo saco! Eu não represento um papel: estou nu; o clown é o mais nu de todos os artistas porque põe em jogo a si mesmo, sem poder trapacear. Para não decepcionar o público, ele tem o dever de ser autêntico, de ter a impressão de estar sempre oferecendo muito pouco. É meu ideal de clown. Um ideal que vocês podem notar em outras pessoas que têm ofícios bem obscuros: pessoas honestas, boas, trabalhadoras. Elas tentam cumprir sua tarefa humildemente: são personalidades tão grandes quanto os mais célebres artistas do mundo.Além do mais, para mim - um pouco à maneira desse santo que dizia: "Ama a Deus e faze o que quiseres" - é isto: "Sê engraçado, e faze o que quiseres." Sê engraçado!!!Depoimento dado a André Sallée.)In "Clowns & Farceurs", Ed. Bordas, Paris, 1982, p. 36-37. Tradução de Roberto Mallet.
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Quinta-feira, 9 de Abril de 2009

8 -EM BUSCA DE SEU PRÓPRIO CLOWN - JACQUES LECOQ- MANIFESTOS TEATRAIS DOS VELHOS NOBRES


Em Busca de Seu Próprio ClownJacques Lecoq
Na tradição do circo, o clown começava sendo um acrobata, malabarista ou trapezista, e depois, com o passar do tempo, não podendo mais realizar os números no mesmo nível de qualidade, ensinava-os a um jovem e tornava-se um clown.
Desde os anos sessenta manifesta-se um interesse pelo clown. Mas o clown não está mais ligado ao circo: trocou o picadeiro pela cena e pela rua. Muitos jovens desejam ser clowns; é uma profissão de fé, uma tomada de posição perante a sociedade: ser esse personagem à parte e reconhecido por todos, pelo qual sentimos um vivo interesse, naquilo que ele não sabe fazer, lá onde ele é fraco. Mostrar suas fraquezas (as pernas finas, o peito largo, os braços pequenos) e enfatizá-las usando roupas diferentes daquelas que usualmente as ocultam, é aceitar-se e mostrar-se tal como se é.Numerosos jovens em todos os países andam pelas ruas com três bolinhas, uma cambalhota, uma parede invisível, querendo ser vistos. O fenômeno ultrapassa a simples representação e seu espetáculo. Esse clown "psicológico", que pode desenvolver uma pedagogia dramática, necessária à liberdade do comediante, não é forçosamente um clown de espetáculo e permanece no mais das vezes sendo um modo de expressão privado. O pequeno nariz vermelho não basta para fazer um clown profissional e a representação não deve ser uma exibição consoladora.
O clown exige também uma proeza, freqüentemente ao inverso da lógica; ele põe em desordem uma certa ordem e permite assim denunciar a ordem vigente: deixa cair o chapéu, vai apanhá-lo mas, desajeitadamente, dá-lhe um pontapé e, sem querer, pisa na bengala que lhe joga de volta o chapéu nas mãos. O clown erra onde não esperamos e acerta onde não esperamos. Se tentar um salto perigoso, cai, mas o executa quando lhe dão uma bofetada. Assim o clown Grock, escondido atrás de um biombo, conseguia junglar com três bolas, só elas visíveis ao público, o que não conseguia fazer perante o público.
O clown toma tudo ao pé da letra, em seu sentido imediato: quando a noite cai (bum!) ele a procura no chão e nós rimos de seu lado idiota e ingênuo. Se alguém lhe manda tomar um ar ele quer segurá-lo com a mão. Todos pregam-lhe peças. Alguém o manda abaixar-se e olhar para os pés: ele se abaixa e leva um pontapé nos fundilhos; achando a piada "muito boa", vai passá-la a um terceiro personagem; este lhe pede para mostrar como fazê-lo e o clown recebe um novo pontapé deste novo personagem, que já conhecia a blague.O pequeno nariz vermelho, "a menor máscara do mundo", dando ao nariz uma forma redonda, banha os olhos de ingenuidade e aumenta o rosto, desarmando-o de qualquer defesa. Ele não causa medo, o que faz com que seja amado por todas as crianças.A pantomima, outrora, desceu ao picadeiro do circo e deu ao clown o rosto branco de Pierrot, que torna-se então o clown branco. O clown, hoje, é sobretudo o augusto e, portanto, todos os cômicos do picadeiro.Beckett deu uma nova dimensão ao clown, fazendo com que ele descobrisse os altos sopros da existência. O herói trágico tornou-se inabordável, e o clown o substitui, "Esperando Godot"...Clowns de teatro e clowns de circo misturam-se no Circo Alfred, na Tchecoslováquia, com Ctibor Turba e Boleslav Polivka. Pierre Byland e Philippe Gaulier, clowns de teatro absurdo, fazem um espetáculo, Os Pratos. Cada país encontra seus clowns, o fenômeno é internacional, e não é o circo que os faz nascer. Os jovens comediantes se reconhecem nesse mundo clownesco que desenvolvem longe da imagem típica do clown de circo.Essa busca de seu próprio clown reside na liberdade de poder ser o que se é e de fazer os outros rirem disso, de aceitar a sua verdade. Existe em nós uma criança que cresceu e que a sociedade não permite aparecer; a cena a permitirá melhor do que a vida.Esse caminho é puramente pedagógico e essa experiência serve ao comediante para além mesmo da representação clownesca. Não basta, para um clown de teatro, apresentar-se ao público fracassando naquilo que procura realizar e com uma roupa típica e nariz vermelho. O clown profissional deve saber realizar seus fracassos com talento e trabalho. Os clowns de teatro fundamentam-se mais sobre o talento do comediante que sobre o do acrobata; sem o nariz vermelho, eles animam um mundo geralmente absurdo e trágico. Em companhias, montam peças curtas criando seus personagens a partir de si mesmos, caricaturando a si mesmos.In "Le Théâtre du geste", org. de Jacques Lecoq, Ed. Bordas, Paris, 1987, pág. 117. Tradução de Roberto Mallet.

Julieta e Romeu

Zabobrim e a missão do palhaço
Marcelo Manzatti, São Paulo (SP) · 21/8/2007 16:31
1overponto

Estado de São Paulo - Caderno 2 - sexta-feira, 17 de agosto de 2007Com seu personagem, Esio Magalhães comove e nos faz rir de coisas singelasCRÍTICAHUGO POSSOLOESPECIAL PARA O ESTADOPalhaço não nasce pronto. Fosse assim, grandes nomes como Arrelia ou Piolin, não teriam hesitado para entrar em cena a primeira vez. Ainda bem, que alguns persistem e aceitam a missão de se dar ao ridículo para fazer os outros rirem. É o caso de Zabobrim, fazedor de abobrinhas como seu nome sugere, interpretado por Esio Magalhães, do Barracão Teatro, de Campinas. Peço licença, não lá muito poética e quase deselegante, à sua parceria de cena, Mafalda, interpretada por Andrea Macera para me concentrar no excêntrico Zabobrim. Em A Julieta e O Romeu, que encerra hoje temporada no Teatro Fábrica, assiste-se a um palhaço daqueles que tocam fundo a alma de tanto que fazem a gente rir. Esio, ou melhor, Zabobrim leva a fundo sua tarefa, domina o tempo de suas brincadeiras, improvisa sem cerimônia e atua com o corpo, livre de imposições cerebrais, sugerindo que ele veio pronto. Mas é apenas parte da longa trajetória onde a capacidade intuitiva de Zabobrim foi forjada. Justamente a intuição, muitas vezes usada para menosprezar o ator que trabalhe independente dos ditames acadêmicos, é a grande fortuna da arte popular. Zabobrim não folcloriza o palhaço, mas satiriza a atuação dirigida e vigorosamente aplica-se em desfazer a lógica do pensamento hegemônico.Talvez o programa da peça se complique ao tentar explicar algo simples: estão ali para nos divertir, sem máscaras. Às vezes um nariz vermelho, que nada esconde quem o representa. O palhaço, por ser um arquétipo, é um pouco representação e um pouco o próprio ator. Só assim um palhaço é diferente do outro.Felizmente, Zabobrim segue a tradição pícara dos mestres do picadeiro. Emociona porque nos faz rir de coisas singelas, nos colocando em contato com uma ingenuidade que, por vezes, esquecemos ainda ser possível.Porém, não posso, simplesmente, dizer que gostei. Seria pouco. Sou apenas mais um palhaço que, aliás, poderia ser motivo de comentário, agradável ou desagradável, nessas mesmas páginas de jornal.Explico. Minha análise aqui tem função crítica. E, salvo raríssimas exceções, a crítica contemporânea dificilmente consegue enxergar a obra em seu contexto. Desconsidera o processo de trabalho do artista exigindo-lhe mais um produto de consumo que uma obra de arte. Pedir digestão rápida e boa embalagem, nesse globalizado mundo de resultados, tem transformado peças de teatro em latas de extrato de tomate. A crítica que se deixa ser guia de consumo prejudica o público, leitor de jornal, que ali busca orientação. Um apanhado subjetivo de ?gostei? e ?não gostei? reduz a complexidade da expressão artística a uma visão individualista que, em sua essência, não lê a realidade social, cultural e política na qual se insere a obra.Por exemplo, podemos ser bombardeados por uma avalanche de anúncios, que custam caro, divulgando um bom espetáculo internacional de palhaços, trazido por alguma grande empresa de entretenimento. A imprensa terá a tarefa de cobrir o evento. Que devemos fazer? Negar suas qualidades? Sermos xenófobos?Acho que não. Valorizemos os talentos que temos e sejamos oswaldianamente antropófagos. Sejamos Zés Celsos nus cavalgando pelas pequenas Ágoras desta cidade e usemos o poder do teatro.Assim, Zabobrim não pode ficar limitado a ser um bom palhaço. É mais. É um valor simbólico gerado sobre o circo brasileiro, que os meios de comunicação têm dificuldade em captar, dar visibilidade ou traduzir. É marca de um momento de maturidade de vários palhaços como o Padoca, de Fernando Sampaio, ou a Margarita de Ana Luíza Cardoso, ou o João Grandão, de Márcio Ballas.Representa a força que o palhaço brasileiro vem recuperando com publicações como Palhaços de Mário Fernando Bolognese, ou o mais recente O Elogio da bobagem, de Alice Viveiros de Castro ou ainda, saindo do forno, Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense de Ermínia Silva.É, também, fruto da luta de vários artistas de Campinas que, há mais de dez anos, no bairro de Barão Geraldo, firmaram a opção pela descentralização da difusão e da pesquisa teatral.Talvez não precisássemos de Zabobrim para destacar isso. Porém, o espetáculo A Julieta e O Romeu traz uma clara metáfora sobre uma interpretação anacrônica, representada pela diva Mafalda, que é engolida pela avidez instintiva do palhaço e sobrevivente Zabobrim.Não se pode confiar nos palhaços, que dizem tantas bobagens que, de tão tolas, nos jogam de frente a verdades que passavam ao largo.Vai Zabobrim!... Segue dançando com tua vassoura, enche o mundo de abobrinhas que nem são tão abobrinhas assim, e varre com alegria a tal tristeza que vive a nos espreitar.
Hugo Possolo, palhaçoe dramaturgo, é também diretordo grupo Parlapatões e do Circo Roda Brasil.ServiçoA Julieta e o Romeu, 75 min. Teatro Fábrica São Paulo ? Sala 1 (134 lug.) Rua da Consolação, 1.623, tel. 3255-5922. Hoje, às 21h30. R$ 30. Último dia

historico

Os palhaços são conhecidos a aproximadamente quatro mil anos mas, a verdade, é que desde sempre, e através dos tempos, inúmeras pessoas dedicaram-se à arte de fazer rir.
Oriente.
Nas cortes dos imperadores chineses os palhaços adquiriram importante papel, podendo inclusive fazer com que o imperador muda-se de idéia em suas decisões. Por mais de mil anos, em várias partes do Oriente (como Malásia, Burma e o Sudeste da Ásia) os palhaços apareciam em teatros, mesmo em representações religiosas; eram conhecidos como “Lubyet” (homens frívolos), e atuavam como desastrosos assistentes dos personagens príncipes e princesas.
Na Malásia se chamavam “P'rang” e usavam horrendas máscaras de bochechas e sobrancelhas enormes, cores carregadas e um grande turbante, criando uma figura pavorosa.
Alguns dos melhores palhaços asiáticos vêm de Bali; os personagens mais populares e que ainda se pode ver são os irmãos Penasar e Kartala. O primeiro aparece sempre preocupado e angustiado, e nunca deixa de comportar-se bem; o segundo não faz nada do jeito certo, senão tudo ao contrário.
Grécia e Roma.
Na antiga Grécia, há mais de 2.000 anos, os palhaços faziam parte das comédias teatrais. Após a apresentação de tragédias sérias, eles davam sua própria versão do fato, onde os heróis apareciam como idiotas. Seu alvo preferido era Hércules, mostrando que suas façanhas aconteciam mais pelo acaso do que intencionalmente.
Também na antiga Roma existiam diversas classes de palhaços; dois deles eram Cicirro, que se caracterizava com uma máscara de cabeça de galo e cacarejava movendo os braços como asas, e Estúpido, com gorro pontiagudo e roupa de retalhos. Os outros atores aparentavam estar enojados e batiam nos dois palhaços causando ainda mais riso entre o público.
Idade Média.
Já no início da Idade Média, com os teatros fechados, artistas perambulavam por toda parte para atuar onde pudessem, para sobreviver, participando de feiras em várias regiões. Na Alemanha e na Escandinávia eram conhecidos como “gleemen”, e na França, “jongleurs”. Contavam contos, cantavam baladas, eram músicos, malabaristas, acrobatas e toda sorte de artistas. Em épocas mais festivas, grupos de mímicos apresentavam danças e comédias nessas feiras. Nesses grupos , depois dos bailarinos, os personagens mais importantes eram os palhaços, que levavam uma bola atada por um barbante, com o qual iam batendo nos espectadores, a fim de abrir espaço para a atuação dos mímicos. Com frequência levava uma vassoura para varrer as pessoas do local gritando: "Espaço! Espaço! Preciso de espaço para recitar minhas trovas!". As palhaçadas eram, nessa época, mais importantes do que a própria história que se apresentava.
Foi também na Idade Média que surgiu a figura do bufão, ou “bobo da corte”; alguns eram realmente “bobos”, mas a maior parte era formada por palhaços inteligentes que se faziam de estúpidos para alegrar às pessoas.
Na Alemanha, eram chamados de “alegres conselheiros” pois, em suas agudas observações, incluíam bons conselhos.

Ainda durante a Idade Média os palhaços atuaram nos teatros pouco a pouco “re-abertos”, principalmente em comédias religiosas, representando o “diabo”, os “vícios”, a estupidez e o mal. Muitas vezes o narrador era um palhaço que mantinha a platéia entretida, atenta, e explicava melhor a história. Cada vez mais o papel do palhaço foi se tornando mais importante, ressaltando os contrastes, até que William Shakespeare mostrou que o palhaço podia não só fazer rir, como fazer chorar, e tornar ainda mais dramáticas as cenas trágicas de uma obra, os palhaços passaram a ser tão importantes, nessas representações, quanto os atores sérios de grandes clássicos do teatro.
Commedia dell'Arte.
No século XVI, na Itália, surge a “Comédia de Arte”, com companhias e personagens que se tornaram muito populares.
Cada um vinha de uma região diferente da Itália e tinham características marcantes que os tornavam facilmente reconhecíveis. É o caso do Arlequim, com sua roupa de retalhos; o Pantaleão, veneziano, e de vermelho; Briguela, de branco e verde; Polichinelo, de branco e gorro pontiagudo; o Doutor, de negro e o Capitão, com sotaque espanhol e roupas militares. Esses personagens tinham características muito definidas e seus papéis eram quase sempre os mesmos e se tornaram tão famosos que os atores eram mais conhecidos pelos personagens que interpretavam do que por seus próprios nomes.
Da Itália, a Commedia del'Arte se estendeu por toda a Europa, adaptando-se a cada país, como na Inglaterra, onde, por exemplo, Pulcinella se tornou Mister Punch, personagem conhecido até os dias atuais, ou o Pierrot, transformado em “clown”, sendo que o mais famoso foi Grimaldi, nascido em 1778.
Os primeiros circos.
O circo moderno parece ter surgido a partir de 1766, criado por um jovem sargento, chamado Philip Astley. Primeiro, com atrações equestres e, logo, enriquecendo as performances com artistas mambembes e atrações mais divertidas para mesclar com as exibições de equitação. O palhaço mais importante foi “Mr. Merryman”, que atuava a cavalo.
Com o tempo mais atrações foram sendo incluídas, surge o palhaço “branco”, ou “clown”, vestido ricamente com lantejoulas e gorro pontiagudo, cara branca e pouca maquiagem; o “augusto”, tonto, desajeitado e extravagante; o “toni” e o “excêntrico”, colaborando para que a gargalhada corresse solta.
Vários números de palhaços, conhecidos como “entradas”, se tornaram clássicos, como “O Espelho Quebrado”, “Hamlet”, “A Água”, “A Estátua”, “O Barbeiro de Sevilha”, etc, e podem ser vistos ainda hoje em grandes circos. Outa maneira do palhaço participar dos espetáculos circenses é através das “reprises”, pequenas cenas de palhaços que acontecem enquanto se prepara a parafernália de um novo número (como preparar as jaulas, o trapézio, etc.). No início do século XIX outra participação importante dos palhaços se dava na segunda metade do espetáculo, quando estes apresentavam uma “pantomima” cômica, um pequeno espetáculo de cunho teatral, dentro do espetáculo circense, muitas vezes baseado em clássicos da dramaturgia e da literatura mundial.
O palhaço era, até pouco tempo, o principal personagem de um circo, sendo uma honra ocupar esse papel. Geralmente, os palhaços são habilidosos em alguma arte, muitos são grandes acrobatas, músicos, malabaristas, domadores, bailarinos, piadistas, cantores, etc.
Hoje em dia os palhaços ocupam espaço não só nos circos, estão presentes nas ruas, nos teatros, na televisão, no cinema, em vários e infinitos espaços e, se um dia, descobrirmos vida em outros planetas, descobriremos, também, novas formas de fazer rir, pois, dentro do mais íntimo de todos os mundos, existe, reluzindo o riso, o Mundo do Nariz Vermelho.
Fonte: Mundo Clown

terça-feira, 7 de julho de 2009

Crítica | A Noite dos Palhaços Mudos por Fabrício Muriana

Mais é mais, mesmo quando é menos
Foto: Carlos Gueller
Pesquisa que sempre se renova em cada um dos que se arriscam com o nariz vermelho, o palhaço tem o dom de permanecer incompleto ao longo da história das artes cênicas. Palhaço sem público reagindo, rindo, completando a obra é quase uma zorra-tot… ops, um não-palhaço. O único personagem que pode se dar ao luxo de ser ingênuo do início ao fim da uma apresentação e, o melhor, quanto mais naïve (ui), mais contagiante. Nesse ano que rodamos por aí, encontramos palhaços sem nariz, palhaços “clássicos“, palhaços “corifeus“, palhaços “políticos“, palhaços “críticos“, palhaços “palhaços“, mas ainda não tínhamos topado com palhaços mudos.
A sacada da história de Laerte, criada em 1987, impõe mais um desafio a quem quisesse adaptá-la ao teatro. O trabalho ficou a cargo da Cia. La Mínima, que transpôs boa parte das cenas concebidas por Laerte em A Noite dos Palhaços mudos, mas soube recriar a história à sua maneira. Nela, valeram-se de efeitos cinematográficos - o próprio palco italiano e as movimentações dentro dele nos remetem à “janela para o mundo” - e não tiveram medo de tirar um personagem que, a princípio, parecia central na história de Laerte e colocar um nariz em seu lugar. E como a peça veio depois de Matrix, todos os personagens que se assemelhavam com o agente Smith - os únicos que não são mudos na história de Laerte - foram unificados num só ator (que também é um palhaço, diga-se, sem nariz).
Mais que uma possível crítica às corporações e seus funcionários, na forma da peça - palco quase sempre limpo, pouquíssimos elementos cênicos, jogos de luz sem virtuoses - descobrimos que o potencial crítico do palhaço também está na criação de mundos a partir de muito pouco - fique bem claro que não estou dizendo “menos é mais”. A chave da montagem é o jogo que se estabelece com o público e o entrosamento do trio que parece ter se preparado além da conta.
Laerte estava presente na estréia e foi legal constatar que o cara - repito O Cara - consegue se divertir com a recriação de sua própria história. Ele, provavelmente melhor que todos naquela sala, sabe que sua história foi reapropriada, reeditada, recriada e que agora ele passou a ser no máximo um co-autor, o que já é um grande mérito, tendo em vista o resultado apresentado. Os quadrinhos brasileiros mal começaram a mostrar o seu potencial nos palcos e no cinema, mas pelo menos no caso dessa adaptação já saímos desejando que venham outros com o mesmo ímpeto criativo.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Clown

Luís Otávio Burnier

O clown é a poesia em ação.Henry Miller

Segundo Roberto Ruiz, a palavra clown vem de clod, que se liga, etimologicamente, ao termo inglês "camponês" e ao seu meio rústico, a terra (1). Por outro lado, palhaço vem do italiano paglia (palha), material usado no revestimento de colchões, porque a primitiva roupa desse cômico era feita do mesmo pano dos colchões: um tecido grosso e listrado, e afofada nas partes mais salientes do corpo, fazendo de quem a vestia um verdadeiro "colchão" ambulante, protegendo-o das constantes quedas (2).
Na verdade palhaço e clown são termos distintos para se designar a mesma coisa. Existem, sim, diferenças quanto às linhas de trabalho. Como, por exemplo, os palhaços (ou clowns) americanos, que dão mais valor à gag, ao número, à idéia; para eles, o que o clown vai fazer tem um maior peso.
Por outro lado, existem aqueles que se preocupam principalmente com o como o palhaço vai realizar seu número, não importando tanto o que ele vai fazer; assim, são mais valorizadas a lógica individual do clown e sua personalidade; esse modo de trabalhar é uma tendência a um trabalho mais pessoal. Podemos dizer que os clowns europeus seguem mais essa linha. Também existem as diferenças que aparecem em decorrência do tipo de espaço em que o palhaço trabalha: o circo, o teatro, a rua, o cinema, etc.
O clown ou palhaço tem suas raízes na baixa comédia grega e romana, com seus tipos característicos, e nas apresentações da commedia dell'arte (3). Nas festividades religiosas e nas apresentações populares da Antigüidade, havia uma alternância entre o solene e o grotesco. Esse é um fato comum a povos distintos: dos gregos até os aborígines da Nova Guiné, passando pelos europeus da Idade Média ou pelos lamaístas do Tibete.
Esta combinação do cômico e do trágico acentua a percepção de emoções contrapostas e é muito peculiar ao clown. Para Shklovski (4), o clown faz tudo seriamente. Ele é a encarnação do trágico na vida cotidiana; é o homem assumindo sua humanidade e sua fraqueza e, por isso, tornando-se cômico.

"Os palhaços sempre foram parte integrante do circo. Num espetáculo de perícia física, que produz na assistência uma reação mental - deslumbramento, espanto, admiração e apreensão - é preciso haver um complemento: um conceito mental que produza no público uma reação física, ou seja, o riso" (5). O clown espanta o medo, esta é a sua função.
Existem dois tipos clássicos de clowns: o branco e o augusto. O clown branco é a encarnação do patrão, o intelectual, a pessoa cerebral. Tradicionalmente, tem rosto branco, vestimenta de lantejoulas (herdada do Arlequim da commedia dell'arte), chapéu cônico e está sempre pronto a ludibriar seu parceiro em cena. Mais modernamente, ele se apresenta de smoking e gravatinha borboleta e é chamado de cabaretier. No Brasil, é conhecido por escada.
O augusto (no Brasil, tony ou tony-excêntrico é o bobo, o eterno perdedor, o ingênuo de boa-fé, o emocional. Ele está sempre sujeito ao domínio do branco, mas, geralmente, supera-o, fazendo triunfar a pureza sobre a malícia, o bem sobre o mal. Adoum afirma que a relação desses dois tipos de clowns acaba representando cabalmente a sociedade e o sistema, e isso provoca a identificação do público com o menos favorecido, o augusto.

Os tipos cômicos: elementos de uma generalogia
Os tipos característicos da baixa comédia grega e romana; os bufões e bobos da Idade Méida; os personagens fixos da commedia dell'arte italiana; o palhaço circense e o clown possuem uma mesma essência: colocar em exposição a estupidez do ser humano, relativizando normas e verdades sociais.
Segundo Bakhtin, a cultura cômica popular da Idade Média, principalmente a cultura carnavalesca, possuía uma grande diversidade: festas públicas carnavalescas; ritos e cultos cômicos especiais; os bufões e tolos; gigantes, anões e monstros; palhaços de diversos estilos; a literatura paródica etc. (6) O riso carnavalesco abalava as estruturas do regime feudal, abolia as relações hierárquicas, igualava pessoas que provinham de condições sociais distintas. Era contrário a toda perpetuação, a toda idéia de acabamento e perfeição, mostrando a relatividade das verdades e autoridades no poder. Todos são passíveis de riso e ninguém é excluído dele; era a percepção do aspecto jocoso e relativo do mundo.
Os bufões e bobos, por exemplo, assistiam sempre às funções cerimoniais sérias, parodiando seus atos, construindo ao lado do mundo oficial uma vida paralela. Esses personagens cômicos da cultura popular medieval eram os veículos permanentes e consagrados do princípio carnavalesco na vida cotidiana. Os bufões e bobos não eram atores que desempenhavam seu papel no palco; ao contrário, continuavam sendo bufões e bobos em todas as circunstâncias da vida. Encarnavam uma forma especial de vida, simultaneamente real e irreal, fronteiriça entre a arte e a vida.
Nos séculos XV e XVI, surgiu a chamada commedia dell'arte, ou comédia de máscaras. Esta típica forma de teatro do Renascimento italiano teve, conforme Gassner, uma dupla origem na arte da mímica que, brotando dos farsistas populares do período romano, evoluiu até os atores-jograis ambulantes da Idade Média e das comédias formais de Plauto e Terêncio. (7)
A commedia dell'arte era baseada num roteiro (canovaccio), que servia como suporte para que os atores improvisassem. Esse roteiro não era um texto estruturado: indicava apenas as entradas e saídas dos atores, os monólogos, os diálogos, episódios burlescos, os cantos e danças. Personagens fixos e situações codificadas facilitavam o jogo espontâneo da improvisação (8)
Esse teatro teve uma grande aceitação na época, pois era do universo cotidiano do público que os atores tiravam a base para sua representação. Fazia descrições vivas de tipos característicos e costumes contemporâneos, envoltas em tramas de intriga amorosa. Os velhos eram satirizados como tolos, e intermináveis variações eram indroduzidas no tema da traição e do marido traído.
Os personagens eram fixos e possuíam máscaras próprias, cujas linhas revelavam o caráter pessoal de cada um. Os principais eram: Pantalone, o velho, rico e tolo mercador de Veneza; Dottore, personificação do pedantismo dos intelectuais da época; Capitão Mata-Mouros, soldado fanfarrão e covarde, metido a valente; Arlecchino, servo esfomeado e atrapalhado; Brighella, servo astuto e briguento; Pulcinella, ora servo, ora patrão, de índole cruel e violenta; Os Enamorados, jovens apaixonados e sensíveis. Embora mascarados e tipificados, eram fortemente individualizados quanto à fala e dialeto. Geralmente, os intérpretes assumiam um papel por toda a vida. (9)
Na commedia dell'arte apareceram, de certa forma, resquícios da dupla de cômicos, os zanni, servos da commedia dell'arte, cuja relação se aperfeiçoará nos clowns. A eles cabia a tarefa de provocar o maior número de cenas cômicas, por suas atitudes ambíguas e suas trapalhadas e trejeitos. Existiam dois tipos distintos de zanni: o primeiro fazia o público rir por sua astúcia, inteligência e engenhosidade. De respostas espirituosas, era arguto o suficiente para fazer intrigas, blefar e enganar os patrões. Já o segundo tipo de criado era insensato, confuso e tolo. Na prática, porém, havia uma certa "contaminação" de um pelo outro. O primeiro zanni é mais conhecido como Brighella, e o segundo como Arlecchino.
Pelas características acima descritas, não é difícil relacionar a dupla de zanni à dupla de clowns, o branco e o augusto.
A essência do circo acompanha desde muito o cotidiano do homem. Segundo Ruiz, pesquisadores afirmam que no ano de 70 a.C., em Pompéia, já existia um enorme anfiteatro destinado a exibições de habilidades que posteriormente seriam caracterizadas como circenses. Por outro lado, na China, já por volta de 200 a.C. as artes acrobáticas se encontravam em desenvolvimento. Números até hoje tradicionais, como o equilíbrio sobre corda bamba, magia, engolir espadas e fogo, já eram conhecidos e praticados, naquela época, pelos chineses. (10)
O circo tal como existe em nossa concepção nasceu há pouco tempo. A criação do circo moderno se deu em 1768, por Philip Astley, em Londres. Astley, um ex-sargento auxiliar de cavalaria, hábil treinador de cavalos, foi o primeiro a descobrir que, se galopasse em círculos, de pé sobre o dorso nu do cavalo, teria o equilíbrio facilitado pela força centrífuga. Estava inventado, então, o picadeiro. Durante 150 anos, os cavalos dominaram os espetáculos circenses, mas pouco a pouco outros artistas se incorporaram à trupe. (11)
Já na época de Philip Astley, exímios cavaleiros realizavam o célebre número do "recruta da cavalaria", em que simulavam camponeses simplórios e astutos que, com suas extravagâncias, divertiam as platéias. Naquela época também surgiu na Inglaterra a dupla branco-augusto: no trabalho de dois grandes cavaleiros do século XVIII (Saunders e Fortinelli), que exploravam os números de "grotesco a cavalo". (12)
É interessante notar que existe maior riqueza na comicidade quando os dois tipos atuam em dupla, pois um serve de contraponto ao outro. Eles são encontrados tanto nos espetáculos circenses da Inglaterra como nos dois zanni da commedia dell'arte.
O clown também desempenha função semelhante à dos bufões e bobos medievais, quando brinca com as instituições e valores oficiais. Ele, pelos nomes que ostenta, pelas roupas que veste, pela maquiagem (deformação do rosto), pelos gestos, falas e traços que o caracterizam, sugere a falta de compromisso com qualquer estilo de vida, ideal ou institucional. É um ser ingênuo e ridículo; entretanto, seu descomprometimento e aparente ingenuidade lhe dão o poder de zombar de tudo e de todos impunemente. O princípio desmistificador do riso, presente na cultura popular medieval renascentista, apareceu no cômico circense, fundamentado, basicamente, na figura do palhaço.
Em suas andanças através do tempo, o clown ocupou diversos espaços: a rua, a praça, a feira, o picadeiro, o palco. Com o advento do cinema, no início do século XX, ele encontrou um novo lugar para continuar revelando à humanidade seu lado ridículo e patético.
O primeiro clown do cinema foi o francês Gabrielle Leuvielle, que tem por pseudônimo Max Linder. Ele dirigia e atuava em seus filmes. Exatamente como os clowns, Max Linder utilizava tudo o que sabia fazer (dançar, saltar, montar a cavalo, etc.). Sua motivação era o desejo de fazer um número circense, exemplo que será seguido por todos os seus sucessores até Jerry Lewis. Os argumentos que tinha por tema eram sempre, como nas entradas de clowns, extremamente simples. Eram as sucessões de gags que mantinham o interesse; o roteiro não passava de um pretexto para a criação de situações cômicas, assim como na commedia dell'arte. Max Linder buscou sua inspiração no teatro de vaudeville (teatro cômico musical, apresentado em bares e cabarés). E, sobretudo, no circo. (13)
Os clowns do cinema retomaram diversas gags já usadas anteriormente por outros colegas de cinema ou por clonws de circo. Chaplin, em Em busca do ouro, na "dança dos pequenos pães" se inspirou nos fantoches de barracas de feiras. "Nada mais natural, pois este costume vem justamente do circo, onde, ao redor das mesmas receitas, brilham os cozinheiros de diferentes gostos". (14)
Com freqüência, os cômicos do cinema transportavam diretamente para seu veículo um trabalho própriol do circo. Todos esses cômicos se formaram nas escolas do circo e do music-hall. Cada um deles era acrobata, dançarino, malabarista, cuspidor de fogo, mímico. E é bastante normal que eles retenham de suas origens tudo o que pode enriquecer esta nova arte: o cinema.
Como nos clowns do circo europeu, eles criaram para o cinema tipos originais e únicos - diferentemente do comediante, que deve poder encarnar personagens os mais diversos. Carlitos é o clown de Chaplin, pessoal e único, não importando se desempenha o papel de O grande ditador, do vagabundo de O garoto ou do operário em Tempos modernos.
Do ponto de vista da técnica do clown utilizada, alguns desses tipos do cinema chegaram a um grande nível de requinte. Dentre eles, destacaria Charles Chaplin, a dupla Hardy e Laurel (o Gordo e o Magro), Buster Keaton, Harold Lloyd, Jacques Tati, Jerry Lewis, Mazzaropi, Oscarito, Grande Otelo e outros.
O clown é a exposição do ridículo e das fraquezas de cada um. Logo, ele é um tipo pessoal e único. Uma pessoa pode ter tendências para o clown branco ou o clown augusto, dependendo de sua personalidade. O clown não representa, ele é - o que faz lembrar os bobos e os bufões da Idade Média. Não se trata de um personagem, ou seja, uma entidade externa a nós, mas da ampliação e dilatação dos aspectos ingênuos, puros e humanos (como nos clods), portanto "estúpidos", de nosso próprio ser. François Fratellini, membro de tradicional família de clowns europeus, dizia: "No teatro os comediantes fazem de conta. Nós, os clowns, fazemos as coisas de verdade." (15)
O trabalho de criação de um clown é extremamente doloroso, pois confronta o artista consigo mesmo, colocando à mostra os recantos escondidos de sua pessoa; vem daí seu caráter profundamente humano.
Notas
(*) Este texto corresponde aos 3 primeiros tópicos do capítulo 8 (O clown e a improvisação codificada) do livro A arte de ator: da técnica à representação, de Luís Otávio Burnier, editora da Unicamp, Campinas, 2001. Para comprar esse livro e conhecer as outras publicações do Lume visite o site do Grupo. [volta]